segunda-feira, 24 de agosto de 2009
domingo, 23 de agosto de 2009

Ditados, Bíblia e Martini
Colunista passa a vida colecionando dizeres e reparte seu “best of” pessoal
Texto por J. R. Duran Ilustração Morgan Blair / http://www.morganblair.com/
Tenho o costume, devo confessar, de anotar em um canto de minhas agendas frases que vou lendo e que, de alguma maneira, me marcam. São pensamentos que devem ter aparecido na minha frente no momento certo. Seguem algumas delas, na ordem em que foram guardadas.
“Deixem as mulheres bonitas para os homens sem inspiração.” Essa é de Marcel Proust. Já o jornalista Mino Carta, se referindo a um político corrupto, escreveu em seu blog: “Não acredito em Lombroso. Mas há exceções, às vezes as aparências não enganam”. Quem escreveu “o que faz andar o barco não é a vela enfurnada, é o vento que não se vê” não foi um marinheiro, foi Platão. E Woody Allen constatou que “se nós falamos com Deus estamos rezando, mas se Deus fala conosco estamos loucos?”. Na época em que as companhias aéreas tornaram as viagens de avião pelo país um pesadelo, o comandante Rocha Lima sintetizou, brilhantemente, a um jornal, que “no Brasil de hoje ir de avião é o meio mais caro para se chegar atrasado a qualquer lugar”.
Interessado pela guerra do Vietnã, me chamou a atenção em uma revista piauí a foto de um isqueiro Zippo com os dizeres “In Vietnam the wind dosen’t blow. It sucks” (No Vietnã o vento não sopra. Suga). Já a frase “A verdade sempre brilha”, que parece saída de um brasão ou bandeira, não sei de onde saiu, mas já me serviu, muito, de consolo. Na sequência, um provérbio judeu: “Com uma mentira se pode ir muito longe, mas sem esperança de retornar”.
O filósofo espanhol Julian Marias escreveu que “no se puede ser inteligente sin ser generoso”, e isso me deixou encucado por um tempo. Já Aristóteles Onassis, armador grego que trabalhou a vida inteira para ser milionário e passou à história como o segundo marido de Jacqueline Kennedy, dizia: “The rule is: there are no rules” (A regra é: não existem regras). Talvez esse fosse seu segredo. Mas, por outro lado, em algum lugar li, e anotei, que alguém descobriu o óbvio, que “os ricos não reconhecem o que não tem preço”.
Guardo, também, os papeizinhos que me tocam nos biscoitos da sorte dos restaurantes chineses. Tenho três colados, um embaixo do outro, bastante enigmáticos. Um deles diz que “mesmo oprimido, procure pelo sucesso”, outro aconselha: “Não se preocupe com o que se passa de fora de sua porta”. Um terceiro sentencia que “tudo o que é visível deve expandir até penetrar o âmbito invisível”. Na verdade não sei ao certo se são enigmáticos, redundantes ou pretensiosos.
Chutando o balde
Neil Young aparece com uma frase retumbante e trágica: “Its better to burn out than to fade away” (algo como: É melhor se acabar do que desaparecer). Serve como uma luva para quem quer chutar o balde. Mario Quintana é mais romântico e escreve que “uma vida não pode apenas ser vivida, precisa também ser sonhada”. A seguir, depois de algumas semanas, deparei com o livro dos Eclesiastes, do Novo Testamento: “Stultorum infinitus est numerus” (O número de estúpidos é infinito). Já Santo Agostinho é bastante prático e cético com a condição humana. Escreve que “toda virtude se deve à falta de oportunidade para o vício”. E Guimarães Rosa vai numa linha mais sintética e platônica ao dizer que “quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo”.
Depois de uma viagem à Eritreia voltei com a frase, quase inútil, “knowledge makes one laugh, but wealth makes one dance” (o saber nos faz rir, mas a riqueza faz dançar). E um dia, monótono com certeza, me lembrei do Chacrinha dizendo “todo dia tomo banho, na mesma banheira do mesmo tamanho”. Por fim, um bom escritor dos anos 30, em Hollywood, de quem não lembro o nome, resumiu: “Quais são os três maiores prazeres da vida? Um dry martini antes e um cigarro depois”. http://revistatrip.uol.com.br/revista/180/colunas/ditados-biblia-e-martini.html
domingo, 16 de agosto de 2009
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Nelson Rodrigues
terça-feira, 11 de agosto de 2009
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
De repercussão internacional, a obra de Mário Cravo Neto tem como principal característica a ligação com o universo afro-cristão existente na cidade onde nasceu, Salvador. Suas fotografias possuem, ao mesmo tempo, influências dos mitos religiosos do candomblé e da cristandade.
Durante o ano de 1968, quando se mudou para Nova York, ele realizou uma série de fotografias em cores 'On The Subway' e produziu também suas primeiras esculturas de acrílico. Entre os livros publicados estão “Ex-Votos“, 1986, “Salvador“, 1999, “Laróyè“, 2000, “Na Terra sob Meus Pés”, 2003, e “O Tigre do Dahomey - A Serpente de Whydah”, 2004.
O corpo será velado na manhã desta segunda-feira (10) no cemitério Jardim da Saudade, na capital baiana, onde será cremado às 11h.
Biografia
Em 1980 e 1995 recebeu o prêmio de Melhor Fotógrafo do Ano da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1996 o Prêmio Nacional de Fotografia da Funarte e em 2004 o Prêmio Mario Pedrosa da Associação Brasileira de Críticos de Arte.
domingo, 9 de agosto de 2009
O grande homenageado do evento deste ano é o fotógrafo baiano Voltaire Fraga. Ainda que desconhecido por muitos, trata-se de um dos mais importantes memorialistas brasileiros do século XX. Seu trabalho documental, realizado entre as décadas de 1930 e 1970, retratou o cotidiano de Salvador e seus habitantes sob os mais diferentes aspectos: arte, religiosidade, ancestralidade, urbanismo, comportamento, etc. Morto aos 94 anos sem o devido reconhecimento que merecia, deixou uma obra única na sua capacidade de desvendar a cidade onde nasceu e que tanto amava.
A exposição destaca o trabalho de três fotógrafos de origem francesa com expressiva atuação na história da fotografia brasileira: Pierre Verger, Marcel Gautherot e Jean Manzon. Nesse núcleo será feita uma homenagem ao pensador Claude Lévi-Strauss, que fotografou São Paulo entre os anos de 1930 e 1935 quando viveu no Brasil.
A mostra vai além ao incluir também o trabalho de três fotógrafos franceses da atualidade, provocando a leitura dos percursos realizados pelas obras de Verger, Gautherot e Manzon. Os fotógrafos Bruno Barbey, Olívia Gay e Antoine D’Agata vieram especialmente ao país para uma jornada de trabalho nas cidades São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, São Luiz e Belém. Completa a mostra uma terceira vertente: os fotógrafos brasileiros Luiz Braga, Tiago Santana e Mauro Restiffe desenvolveram um diálogo entre as imagens históricas existentes e as imagens realizadas pelos fotógrafos franceses convidados.
Além disso, a programação da quinta edição do A Gosto da Fotografia destaca o trabalho de quatro importantes fotógrafos brasileiros: Vânia Toledo, Marc Dumas, Ieda Marques e Sérgio Benutti.
Vânia Toledo – Apresenta a mostra Diário de Bolsa- Instantâneos do Olhar, que reúne dezenas de imagens produzidas com sua Yashica de estimação, sempre guardada na bolsa para um eventual fragrante. Desta forma, ela documentou uma geração: artistas, amigos, conhecidos, desconhecidos. Gente em momentos descontraídos, espontâneos, vibrantes – instantâneos de um tempo perdido entre a inocência e a ousadia.
Sergio Benutti – Apresenta a mostra A Construção de uma Memória, que tem como ponto de partida a restauração da segunda etapa da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, que nasceu junto com a cidade de Salvador, em 1949. Benutti documentou o processo de restauro do rico acervo da instituição, que reúne cerca de 1.800 obras, entre pinturas, mobiliário, azulejaria, imaginário, alfaias e documentos raros.
Ieda Marques – Apresenta a exposição Luz do Interior, que retrata o clima e a riqueza cultural no cotidiano das cidades da Chapada Diamantina, na Bahia. Seu alvo de observação é a cozinha, espaço doméstico impregnado de significados, ambiente de intimidade da família, extrato de uma sociedade com traços culturais que beiram o encantamento.
Marc Dumas – Apresenta a mostra Porto da Barra – literalmente, um mergulho fotográfico no mar daquela que é uma das mais famosas e badaladas praias de Salvador. Dumas fotografa pessoas e embarcações que ali navegam. Sempre associando a presença humana ao mar que emoldura o ambiente.
http://www.cultura.ba.gov.br/noticias/plugcultura/a-gosto-da-fotografia-traz-programacao-diversificada-em-espacos-de-salvador
sábado, 8 de agosto de 2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Desvendando Marfa - Brooke Schwab fala de como juntou 13 desconhecidas para revelar em cliques a cidade texana (Flora Paul)

As integrantes do coletivo nas redondezas da cidadezinha texana
Junte 13 mulheres que mal se conhecem, 13 máquinas fotográficas, US$ 700 e um destino improvável. Essa é a história do coletivo MarfaTrip, que resultou em 10 mil cliques fotográficos e um website cheio de imagens incríveis de uma cidadezinha no interior do Texas com uma população de apenas 2 mil pessoas, a pequena Marfa.
A fotógrafa texana Brooke Schwab descobriu a cidade há quase uma década. “É um lugar que me inspira artisticamente e espiritualmente”, contou ao site da Tpm, por e-mail. Depois de ter a ideia de juntar um grupo de fotógrafas para uma expedição, decidiu que Marfa seria o cenário da aventura. Capitaneou as escolhidas através de amigas – algumas até mesmo on-line – e para lá foram, no começo de junho.
Conversamos com Brooke sobre como foi viajar em um grupo praticamente desconhecido, o dilema entre fotografia digital e analógica e qual é a próxima cidadela que o coletivo pretende explorar.
Como o coletivo se formou?
Decidi que queria juntar um grupo de mulheres de todo o país para fotografar juntas. Então eu e uma amiga fotógrafa começamos a escolher meninas para formamos esse grupo e fazer uma viagem, foi ai que surgiu a ideia da viagem a Marfa. Algumas meninas se conheciam, mas algumas não. E então abraçamos a ideia, escolhemos um bom cenário e fomos nos conhecer durante uma semana por lá.

E por que vocês escolheram viajar para Marfa?
Esta é uma pergunta popular! Quando me perguntam por que ir para Marfa, eu respondo: e por que não? Eu sou do Texas, viajo para Marfa já faz uns sete anos. É um lugar que me inspira artisticamente e espiritualmente. Todas esses anos em que visitava a cidade, pensava que era um ótimo lugar para se fazer um retiro. Eu simplesmente sabia que seria um lugar maravilhoso para isso.

Como foi quando chegaram lá?
Quando chegamos lá, foi uma sensação realmente revigorante, só em pensar que não precisávamos fazer nada do nosso dia a dia, podíamos relaxar, andar por ali, passear de bicicleta. Ficar longe de uma cidade grande e passar um tempo em uma cidadezinha faz com que você diminua o ritmo e reflita bastante.
Você se lembra de alguma história memorável durante a viagem?
Como juntamos mulheres de vários Estados, nos encontramos de avião. Mas tiramos um dia para dirigir pelas redondezas, queríamos conhecer mais da região e, quem sabe, encontrar alguma cidade fantasma! Enquanto dirigíamos pelas estradas desertas, encontramos um monte de coisas que as pessoas jogaram fora por ali, no meio do nada. Foi um ótimo dia, nos sentimos muito livres. E também tivemos muitas frases memoráveis, claro.
Como foi viajar em 13 mulheres?
Você se surpreenderia com o quão bem nos demos. Normalmente só de pensar em 13 mulheres se arrumando juntas para sair para um jantar parece uma missão impossível. Mas não foi. Somos todas muito tranquilas. E nos arrumávamos em 15 minutos! Então foi bem fácil.
Porque o coletivo não tem fotógrafas amadoras?
O coletivo só tem fotógrafas profissionais porque queríamos que a formação do grupo servisse para encorajar cada uma de nós a se aventurar mais em nossa profissão. Porque todas nós temos nossos próprios estúdios e geralmente fotografamos apenas retratos e casamentos.
Quantas fotos vocês tiraram?
Acho que em torno de 10 mil. Mas eu não contei uma por uma!
Quanto custou a viagem?
Pensando por cima, sem incluir comidinhas e as passagens de avião, custou uns US$ 700.

O grupo discutiu sobre fotografar em filme ou digital?
O que você acha dessa discussão, ela ainda importa?
Amamos tanto filme como digital e por isso nem pensamos muito sobre qual é melhor ou qualquer coisa a respeito. Acabamos fotografando mais em digital mesmo, mas adoramos fotografar em filme.
Qual você acha que é a importância da fotografia?
Acho que a grande importância da fotografia não é, por exemplo, sobre criar algo grandioso. É sobre criar. E criar algo que fale algo, que passe uma mensagem.
Quais são os próximos projetos do coletivo? Novas viagens? Talvez lançar um livro?
Nós queremos conseguir colocar todas as nossas fotos on-line, criar uma grande galeria. É o que estamos fazendo atualmente. Nunca pensei seriamente em lançar um livro com nossas fotos, mas é uma ideia interessante. Nossa próxima expedição já está marcada: vamos para Bend, uma cidade no Estado do Oregon, em outubro. E seria muito legal ir para a Costa Rica!







quarta-feira, 5 de agosto de 2009
domingo, 2 de agosto de 2009
(para melhor resolução das fotos, a dica: clica em cima para ampliar, cabeça!)
sábado, 1 de agosto de 2009
Rasta Surfers - Trip vai à Jamaica e encontra uma cena singular no surf mundial, dominada por rastafáris

Segurando entre os dedos um baseado já queimado pela metade, mas ainda num tamanho considerável, Antony Wilmot, conhecido como Billy Mystic, aproxima-se de mim. Estávamos a poucos metros do mar jamaicano, em Bull Bay, onde a figura de longos dreadlocks – grisalhos devido às cinco décadas de vida – mora e mantém o Jamnesia Surf Club. Em silêncio, Billy saca o isqueiro, acende seu baseado e dá uma tragada longa. Sem soltar a fumaça, peito estufado, vira e diz: “E então, o que você quer saber sobre os surfistas rastafáris?”. Na pequena mas crescente cena local, Billy é ícone de um grupo de surfistas que se destaca por mesclar dois estilos de vida, o dos rastafáris, quase religioso, e o dos surfistas, esse velho conhecido.
A reportagem da Trip foi até lá acompanhar três profissionais brasileiros que viajaram dispostos a descobrir como são as ondas da ilha. Acabou deparando com uma cena única, sob a bênção de Jah. “O fato de o surf ser algo ligado à natureza faz com que ele se assemelhe à cultura rasta”, diz Billy. E completa: “Uma pequena parte dos rastafáris jamaicanos surfa, mas boa parte dos surfistas é rasta”. Sua família é exemplo disso. Seus cinco filhos ostentam dreadlocks e exploram os picos que a Jamaica oferece. Tudo sem atropelo, já que o surf no país não é popular, apesar das ondas quebrando no sudeste da ilha.
Pelos cálculos de Billy, hoje na Jamaica há menos de 200 surfistas, profissionais ou não. Mulheres, não chega a dez. A número um do ranking, aliás, é sua filha Imani Wilmot, 18 anos, que é rasta, não fuma e ensina o esporte a crianças. “Temos quatro ou cinco nos campeonatos, e no máximo 10 surfando em toda a ilha. Às vezes fico mais de um mês sem ver outra surfista”, conta. A realidade contrasta com a idade do surf por lá. Billy entrou no mar pela primeira vez com uma prancha debaixo do braço no início dos anos 70. Dava para contar nos dedos quantos se arriscavam no mar, era a primeira geração de surfistas locais, ainda se acostumando com a vida depois da independência conquistada diante da Inglaterra na década anterior. A situação ficou assim até Billy fundar a Associação de Surf da Jamaica, em 1999, e ver o esporte começar a crescer. Para o mundo, contudo, o país ainda é apenas a terra do reggae, da maconha e dos rastafáris.
Dreadlocks no campeonato mundial
Com um envelope grande nas mãos, Billy desce a escada que liga sua casa ao surf club. Quer mostrar à reportagem um projeto no qual trabalha há algum tempo. De dentro do envelope, retira um livro com uma capa dura branca coberta por uma foto instigante: um surfista com largos dreadlocks passando com sua prancha em frente a uma gigantesca plantação de maconha – a foto só não está nesta página porque Billy não liberou, aliás. Sobre a imagem, a inscrição em letras douradas: Surf rasta – A história não contada do surf, style e música jamaicana de 1960 a 2010. Nas páginas internas, retratos antigos ilustram como os amantes de Jah começaram a encarar as ondas.
Pelos cálculos de billy, hoje na Jamaica há menos de 200 surfistas, profissionais ou não. Mulheres, não chegam a dez
Em parceria com a marca de surf australiana Insight, que patrocina a família Wilmot, Billy pretende lançar o livro no ano que vem. “A ideia é ilustrar o desenvolvimento do surf jamaicano, mostrando o que acontecia ao mesmo tempo na música e na cultura rasta. Nos anos 70 e 80 o país ganhou nome por conta do reggae e dos rastafáris, mas ninguém sabe que, paralelamente, o surf também se desenvolvia.” Para os filhos de Billy, o reggae, a vida rasta e o surf caminham juntos, numa combinação que, quem tem o privilégio de usufruir diz ser a mais prazerosa possível. Inilek Wilmot, 24 anos, por exemplo, pegou as primeiras ondas aos 7, já identificado com o lifestyle rastafári – o que, em seu caso, não inclui o baseado, por causa da asma.
Aqui vale uma breve explicação: na cultura rasta, fumar a ganja é uma espécie de ritual religioso, uma oferenda a Jah. A maioria dos rastas que ouvimos classifica sua cultura não como uma religião, mas como um estilo de vida, marcado por uma ligação estreita com a natureza (ponto que o aproxima do surf) e pela crença de que as relações humanas são mais importantes que qualquer bem material. O discurso sobre viver da forma mais natural possível está na ponta da língua de todos que ostentam dreadlocks. O cabelo, por sinal, também tem explicação religiosa. “Eles crescem de acordo com um voto, um agradecimeto a Deus por algo. Pode ser um voto de três anos ou uma semana.”
Dos nove campeonatos nacionais realizados no país, Inilek venceu quatro. Outros familiares levaram mais alguns, consolidando uma hegemonia dos rasta surfers. Seu irmão Icah planeja inclusive entrar para o circuito do WQS (World Qualifing Series) em 2010. Tudo isso sem ganhar um centavo em premiações. “Não tem dinheiro. É só pra dizer: ‘Eu fiz, sou o campeão nacional’.”, explica Inilek. A maior recompensa é mesmo a participação no ISA World Surfing Games – competição mundial da respeitada International Surfing Association. Desde 2002, os melhores surfistas da temporada vão ao torneio. Bons resultados eles nunca conseguiram, mas ninguém se preocupa com isso. Garantem que, mesmo sem estar entre os top, são idolatrados no evento.

Sean com a galera nas ruas de Kingston
Portas abertas da Jamnesia
A rica história do surf local passa obrigatoriamente pelo Jamnesia Surf Club. O terreno do clube, à beira-mar, está sempre de portas abertas. Aliás, nem tem portão, ao contrário das construções vizinhas, todas gradeadas. Dezenas de pranchas ficam enfileiradas, para as aulas de surf. Ali também funciona a Associação de Surf da Jamaica. E, como não existe surf shop na ilha, os surfistas dependem da parafina que a associação recebe do patrocinador. Quem não consegue usa vela. Por fim, ali é também a casa da família de Billy, o que agrega ao lugar traços rasta, como o som constante do reggae.
Uma cena que vimos em um dia de semana qualquer ilustra bem essa paixão musical. Eram 11 da noite, e os instrumentos estavam só começando a ser ligados no quintal do Jamnesia. A banda de Inilek ia passar algumas músicas. Horas antes, o reggae ecoara em um estúdio de gravação improvisado por ali. Billy e sua banda, a Mystic Revealers, já lançaram cinco CDs, com direito a turnê pela Europa, e os filhos seguem o mesmo caminho. Quando o reggae deixa de ser ouvido no Jamnesia Surf Club, já passa de 1h30. Billy, que acompanhava o ensaio, dá a última tragada na ganja que tinha na mão. Vai dormir, quer acordar cedo para checar como está o swell nos picos que costuma frequentar e, quem sabe, poder surfar.
Brasileiros na área
“Jamaica? Mas lá dá onda?” O free surfer brasileiro Fernando Fanta não tinha resposta. “Nunca ouvi falar de surf por lá”, insistiam os amigos. Ótimo, esta era a ideia: ir para um lugar onde quase ninguém soubesse do potencial das ondas e garimpar a verdadeira cena surf local. Junto com os também surfistas Igor Morais e Yuri Castro, Fernando embarcou sem saber exatamente o que encontraria.
“A vibe no mar é muito boa. No Havaí, por exemplo, tem um localismo pesado. Aqui eles têm prazer de surfar com você. E não existe crowd”
Descobriu rapidamente, por exemplo, que a ilha pode ser dividida em duas partes: no norte ficam as praias paradisíacas e os resorts, e o mar é totalmente flat. As ondulações não chegam até ali porque são bloqueadas por uma proteção natural formada pela ilha que abriga Haiti e República Dominicana e por Cuba. Para os surfistas, a diversão está do outro lado, ao sul, perto da capital, Kingston. “Por ser de pedra, o fundo do mar daqui é o melhor pra formação de ondas”, explica Igor. Lighthouse, Makka e Copacabana – sim, lá também tem uma – são alguns dos picos mais conhecidos. Tudo bem que as ondas dificilmente chegam a 10 pés (uma das razões para a ilha não receber muitos surfistas de fora), mas pelo menos entram durante o ano inteiro.
O que a cena de surf jamaicana guarda de melhor, entretanto, é raro de encontrar pelo mundo. “A vibe no mar é muito boa. Não tem essa de ficar disputando onda. No Havaí, por exemplo, tem um localismo pesado. Aqui eles têm prazer de surfar com você, em te assistir. E não existe crowd”, resume Yuri. Assim, depois de duas semanas, Fernando pôde responder da pergunta que tanto lhe fizeram. Sim, na Jamaica há onda. E algo mais.

O free surfer brasileiro Fernando Fanta forma o símbolo rasta com Inilek Wilmot, filho de Billy e tetracampeão mundial

O surfista e morador da Jamnesia Sean

Icah mostrando porque almeja o WQS

Iuri Castro voa nas ondas da ilha

Billy Wilmot fora d'água
Texto por: Caio Ferretti
Fotos: Moisés Tupinambá / Divulgação Lost