segunda-feira, 25 de maio de 2009

"Nasci nas ilhas Fortunadas, onde a natureza não tem necessidade alguma da arte. Não se sabe, ali, o que sejam o trabalho, a velhice, as doenças; nunca se vêem, nos campos, nem asfódelo, nem malva, nem lilá, nem lúpulo, nem fava, nem outros semelhantes e desprezíveis vegetais. Ali, ao contrário, a terra produz tudo quanto possa deleitar a vista e embriagar o olfato: mólio, panacéia, nepente, manjerona, ambrósia, lótus, rosas, violetas, jacintos, anêmonas. Nascida no meio de tantas delícias, não saudei a luz com o pranto, como quase todos os homens: mas quando fui parida, comecei a rir gostosamente na cara da minha mãe. Não invejo, pois, ao supremo Júpiter, o ter sido amamentado pela cabra Amaltéia, pois que duas graciosíssimas ninfas me deram de mamar: Mete*, filha de Baco, e Apédia**, filha de Pã. Ainda podeis vê-las, aqui, no consórcio das outras minhas sequazes companheiras. Se, por Júpiter, também quereis saber os seus nomes, eu vo-los direi, mas somente em grego."
(Elogio da Loucura -Erasmo de Rotterdam)
*Mete, a Embriaguez
**Apédia, a Imperícia

Nenhum comentário: